Crises econômicas de abrangência mundial, como a que se observa atualmente, geram ao menos um ganho inegável: chamam a atenção para a existência de profetas do otimismo e do pessimismo. Desta forma, construir uma opinião coerente e contribuir para o debate acerca das possíveis soluções para a crise é uma qualidade rara, sobretudo no indigesto e vasto grupo de comentaristas de plantão. Fugindo da tentação oportunista de profetizar acontecimentos, esse texto buscará lançar luz sobre este confuso cenário, atualmente caracterizado pela frustração das previsões de que “o pior já passou”. Parece consenso de que o otimismo está fora de moda. A dinâmica dos indicadores econômicos atordoou a maioria dos analistas, que agora se recusam a enxergar o fundo no poço,semelhante ao indivíduo que se afoga em uma piscina rasa. A atual crise foi gerada devido a uma correlação de excessos, de consumo,de endividamento, de alavancagem e uma boa dose do que Alan Greenspan(ex-presidente do Federal Reserve) chamou de “exuberância irracional”. A recessão, um ajuste necessário na conjuntura atual,é uma solução natural, não se pode forçar o banco a emprestar,nem o empresário a investir ou o consumidor a comprar. O Brasil deu azar, pois pouco antes da eclosão da crise o país estava em um ótimo momento, com crescimento doméstico pujante e investimentos em ascensão. O governo por sua vez, desperdiçou a oportunidade de consertar o seu telhado em um período de sol predominante. Se nos tempos de bonança o governo tivesse feito as reformas estruturais que reduzissem a carga tributária, a burocracia e o custo do emprego, os empresários teriam mais apetite e o seu “espírito animal” para investir e assumir riscos não seria tão afetado. O governo acomodou-se nas facilidades e terá o grande desafio de correr atrás do prejuízo. Realizar reformas neste momento conturbado é inviável, pois seus efeitos serão visíveis somente no longo prazo, e o necessário restabelecimento da confiança só sedará com ações que tenham efeito no curto e médio prazo. A queda de 3,6% do PIB, observada no quarto trimestre do ano passado em relação ao trimestre anterior, é a certeza que o Brasil foi duramente atingido pela crise. Empresários e consumidores provavelmente tiveram uma avaliação menos otimista da dimensão da crise e não acreditaram no discurso oficial de que o Brasil estaria blindado em função do crescimento interno e do bom estado de variáveis macroeconômicas. É possível que a reação dos agentes econômicos diante do novo cenário foi exagerada e que algumas empresas demitiram de forma preventiva como alegou o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em análise recente, contudo é difícil não acreditar que as razões para a deterioração das expectativas não tenham sido fortes. Não só empresários, mas também investidores e consumidores tomaram a decisão mais racional do ponto de vista individual e o somatório dessas ações individuais resultaram no fim da seqüência de 12 trimestres de crescimento do PIB, o mais longo ciclo de crescimento dos últimos 20 anos. Esta significativa retração foi concentrada no setor industrial, principalmente no segmento metal-mecânico e entre exportadores em geral, contudo é importante destacar que essa dinâmica não sepulta a chance de crescimento positivo ainda esse ano. O momento não é de prever quando ocorrerá a recuperação, mas focar em maneiras de evitar um agravamento da situação da economia global. A escassez de crédito ainda persiste, mas principalmente em virtude de questões operacionais e não necessariamente estruturais. É muito provável que as instituições financeiras continuem retendo a liquidez disponibilizada pelos Bancos Centrais, gerando o chamado “empoçamento” do crédito. Essa conduta é justificada em função do processo de desalavancagem que essas instituições estão realizando, que na prática significa uma pressão crescente para sanear suas carteiras e fortalecer suas bases de capital. Assim que esse processo terminar, a confiança deverá se restabelecer, gerando um afrouxamento das exigências de garantias e cadastro e a consequente recuperação no consumo de bens duráveis e de capital. No entanto, a crise da economia mundial deve continuar nas manchetes dos jornais durante todo o ano de 2009. Para os otimistas a recuperação se dará entre o final de 2009 e início de 2010, já para os pessimistas isso só ocorrerá no início de 2011. Muitos falam da “segunda onda” da crise, que seria o impacto da redução maciça da riqueza real e financeira nas expectativas de investimento e consumo, assim como o impacto da redução da massa salarial,ocorrida em função de um possível incremento do desemprego, no consumo de bens básicos. Ou seja, entre os pessimistas existe a possibilidade dos impactos da crise não ficarem restritos aos segmentos significativamente dependentes do crédito, mas também entre os mais dependentes da massa salarial disponível na economia,fato que iria comprometer o desempenho do volume de vendas do comércio varejista brasileiro. O debate entre pessimistas e otimistas é estéril, incapaz de gerar frutos, construir argumentos indubitáveis ou políticas públicas anticíclicas eficientes. Os dois lados da mesa têm razão em determinados momentos, porém assumir uma postura pessimista ou otimista é uma opção equivocada, o ideal é uma postura otimista-realista e isso vale para tudo na vida. No mundo real nem sempre a política ótima tem o suporte da maioria da sociedade, apolítica é a arte do possível. Essa máxima fica latente quando se observa as políticas fiscais e monetárias realizadas pelo Banco Central brasileiro e pela União. Quando o Banco Central baixa os juros, por exemplo, há quem diga que o mesmo deveria ter realizado essa ação anteriormente e quando a União decide reduzir as alíquotas do IPI as declarações são semelhantes. Na verdade, o Brasil está aprendendo a lidar com sua maturidade econômica adquirida graças ao Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal. Muitos ainda acreditam em soluções milagrosas e rápidas, porém um sistema financeiro saudável e sustentável é fruto da responsabilidade, ética profissional e cautela em relação aos riscos.
Fonte: Sergio Leusin Jr. Assessoria Econômica Federasul/ACPA